terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

De 2013 a 2018: Qual foi o nosso aprendizado?

O tempo passa, o tempo voa, mas a capacidade de aprendermos com a nossa própria história, erros e acertos, parece não ser tão rápida. Já são cinco anos das manifestações de 2013, que levaram milhões de brasileiros às ruas com uma lista de demandas difusas que estavam engasgadas na garganta.

E lá se viam as faixas, camisetas e os cartazes em cartolinas manuscritas exigindo mais respeito, qualidade de vida, melhorias na educação, saúde, transporte, segurança, justiça, contra os abusos de poder e a corrupção, e por uma nova política.

Naquela época, já prevíamos: "Tudo o que se disser agora será pouco e inconclusivo. O fato é que está se escrevendo a nova história do país. Consolidada a democracia, o povo quer mais."

O movimento - que cresceu espontaneamente, pela força das redes sociais, por fora dos partidos e das organizações tradicionais - atingiu o patamar das históricas manifestações pela redemocratização do país, as "Diretas já!" e os "caras-pintadas" que anteciparam o impeachment do presidente Fernando Collor. Não por acaso, desaguou anos depois em outro impeachment, o da presidente Dilma Rousseff.

Governantes foram questionados e desafiados. Todos eles: prefeitos, governadores e a então presidente da República. Acostumados a um raciocínio cartesiano, diziam-se dispostos a "negociar com os líderes do movimento", sem compreender a horizontalidade e o espontaneísmo das manifestações.

Iniciados a partir do Movimento Passe Livre, composto por meia centena de jovens bem articulados que defendiam a "tarifa zero" no transporte público, os protestos que começaram contra os 20 centavos do aumento da passagem escapavam de qualquer controle ou direcionamento político-partidário. Não havia líderes nem liderados. O que tomou conta das ruas foi a indignação do povo.

Todo aquele desabafo coletivo fazia bem para a alma. Hoje, cinco anos depois, teremos a oportunidade de tirar a prova deste aprendizado. Voltaremos às urnas para escolher homens e mulheres para a Presidência da República, para o Congresso Nacional e para os governos dos estados. Será que votaremos melhor? Votaremos diferente?

Daquele movimento espontâneo e embrionário de 2013 surgiram vários outros, estes organizados em torno de pautas bem definidas, que tentam despertar o espírito cívico dos brasileiros e clamam pela renovação da política. E assim nasceram Vem Pra RuaMBL - Movimento Brasil Livre, Agora, RenovaBR, Acredito, Livres, RAPS, Brasil 21Bancada Ativista, Roda Democrática e tantos outros.

As vozes das ruas e das redes ainda ecoam na política nacional. Alguma coisa está acontecendo. Não foi por acaso a repercussão positiva da Operação Lava Jato, nem a quantidade de políticos e empresários poderosos atrás das grades. Se essas mudanças são pontuais ou serão estruturais, culturais, definitivas, ainda não sabemos.

Não se tratava de um protesto motivado por míseros 20 centavos na tarifa de ônibus. O que uniu pessoas tão diferentes entre si foi a indignação e o descontentamento contra os abusos do poder, contra o descaso, contra o(s) governo(s), contra a corrupção, contra a desigualdade, contra a intolerância, contra a injustiça.

A profundidade e a importância dos acontecimentos, como em quase todos os fatos históricos, não saberemos agora, no calor das emoções, mas com o distanciamento crítico e o passar do tempo. Porém, os movimentos estão aí, fazendo a mudança, construindo um novo Brasil, queiram os velhos políticos ou não.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente