quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O PPS, o incrível Huck e outras histórias

Senta que lá vem textão. Tenho por hábito ser mais jornalista que político, o que certamente é um erro estratégico na visão dos cartorários e burocratas partidários, gente que não costuma ter a verdade como matéria-prima. Mas é necessário um choque de informação para sairmos da catatonia e voltarmos com os dois pés à realidade - bem menos dourada do que podem fazer supor os devaneios de nossos líderes e dos áulicos de plantão, estes que vivem de pequenos estelionatos e da desonestidade intelectual entre um congresso e outro do PPS.

Primeiro, e mais importante, não existe a mais remota possibilidade de Luciano Huck se filiar ao PPS (antes houvesse!). Portanto, todas as discussões internas desencadeadas por essa nota plantada e distorcida não terão o mínimo respaldo no mundo real. Se Huck se filiasse e disputasse a eleição, tenham certeza, não seria pelo PPS. Nem nunca houve essa possibilidade. A hipótese de candidatura - por outro partido - buscaria sim o apoio do PPS, que pode ainda receber a filiação de alguns nomes desses novos movimentos da sociedade que tem como bandeira a renovação da política. (E que sejam bem-vindos!)

Agora (ops!), fazer crer que Huck em algum momento cogitou se filiar ao PPS é mais falso que nota de R$ 3. História de pescadores de águas turvas e suas táticas diversionistas. Chega a ser risível que a nota plantada na imprensa (deixando as impressões digitais do autor) afirme que "desde setembro" o partido conversa com representantes de movimentos como o Agora ou a RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade).

Ora, meus caros, estes diálogos (não por oportunismo, como neste momento, mas por afinidade) são uma construção política muuuuuuuito mais antiga, trabalhada e consistente. Tocada a partir de São Paulo (mas não só aqui) por mim, por Carlos Fernandes, por Davi Zaia e pelo próprio Roberto Freire (quando não tem sua ação atravancada por um séquito de impostores). Portanto, não percam tempo com lorotas eleitoreiras e balões de ensaio. Vamos nos ater aos fatos.

O Agora, por exemplo, citado nominalmente como recente interlocutor do PPS para as eleições de 2018. Quem são seus representantes? Veja aqui.

Entre seus idealizadores e fundadores, nomes como Alexandre Youssef, que, para quem não conhece, foi simplesmente o incentivador da entrada de Soninha Francine na política, com quem ela trabalhou durante todo o seu primeiro mandato como vereadora eleita pelo PT (2005-2008), tendo sido seu chefe de gabinete na Câmara e também coordenado a sua primeira campanha à Prefeitura pelo PPS, em 2008, para onde Soninha veio no ano anterior, ou seja, há exatos 10 anos - dessa vez por "culpa" do autor deste texto que você lê agora. Então, reitere-se, isso não é de agora (e perdoe a redundância e o duplo trocadilho involuntário com a denominação do movimento).

Mas tem mais, muito mais: Daniela Castro, outra que trabalhou com Soninha e com quem temos contato no PPS pelo menos desde 2007. É atual secretária adjunta de Esportes do prefeito João Doria. André Palhano, idealizador da Virada Sustentável, amigo jornalista, parceiro na RAPS (onde estamos juntos desde a primeira turma de líderes selecionados em 2013) e no #ProgramaDiferente, que cobre e exibe com exclusividade suas Rodas de Conversa. Humberto Laudares, fundador também da Onda Azul, movimento dissidente do PSDB, outro amigo e que é próximo do PPS há anos (Adão Cândido, Bruno Soller, Carlos Fernandes e Roberto Freire hão de lembrar de um dos almoços que tivemos com ele; além de também ser colaborador do #ProgramaDiferente).

Segue a lista: Leandro Machado, Monica Sodré, Ademar Bueno, André Previato, todos amigos, parceiros de RAPS e colaboradores do mandato de Ricardo Young como vereador pelo PPS, de 2013 a 2016. Aliás, este assunto daria um capítulo à parte. A própria vinda de Ricardo Young para o PPS, em 2011, é a concretização desta aproximação do PPS (e da FAP) com os movimentos vivos da sociedade, à esquerda e à direita (vide o MBL, com o qual também fomos os primeiros a estabelecer uma relação institucional, desde as manifestações iniciais pelo impeachment, em 2014, quando ninguém botava fé nos "moleques metidos a liberais"; e aí, outra vez, méritos para Carlos Fernandes, Davi Zaia e Roberto Freire pela visão ampla, moderna e suprapartidária).

Digo mais: além de Soninha Francine, Ricardo Young e de movimentos como Agora, RAPS, Vem Pra Rua e MBL, foi dentro destes princípios de renovação e reformulação da política que trouxemos Claudio Fonseca (nosso vereador paulistano desde 2008), Lars Grael, Ronaldo Giovanelli, Luisa Mell, Mauricio Brusadin (alguns não permaneceram porque nem sempre os partidos lidam bem com o novo)...

E, outro capítulo à parte, até Marina Silva (bem antes da aproximação dela com Eduardo Campos, na saída do seu grupo "sonhático" do PV após as eleições de 2010), que não veio naquela oportunidade (quando não por acaso lançamos a #Rede23, antes portanto de existir a Rede Sustentabilidade) porque o PPS também vive de tempos em tempos de ilusões e frustrações (fusão I, fusão II, fusão III, candidatura presidencial de José Serra pelo PPS etc.), que criam barreiras para as mudanças que vislumbramos há tempos (aliás, em tese, desde que o PPS foi fundado, há 25 anos, como partido-movimento). 

OK, mas qual é a utilidade, afinal, desse textão repleto de nomes e de fatos de um passado recente, trazido agora a público?

Por um lado, mostrar que estamos vacinados dessas histórias para boi dormir. Separar o joio do trigo. Os fatos dos factóides. Esvaziar os balões de ensaio e mostrar que a boa política se faz verdadeiramente do trabalho árduo e cotidiano. Nenhuma solução mágica cai no colo do gênio de plantão. E quem vender essas saídas mirabolantes estará mentindo.

Segundo, respeitar a história e a trajetória de um partido que não pode e não deve se igualar a essas legendas que aparecem na bacia das almas à caça de um candidato - qualquer um - para chamar de seu! Temos lideranças respeitáveis: nem é necessário nominar para não pecar pelo esquecimento, mas que simbolicamente podemos exemplificar na figura ímpar do senador Cristovam Buarque, de um prefeito como Luciano Rezende, dos dirigentes já citados neste texto e dos homens e mulheres que compõem a nossa pequena mas digna e valente bancada federal. Também, e sobretudo, de todos os nossos militantes anônimos que formam a base do partido, as mulheres, a juventude, os núcleos setoriais, os candidatos em seus municípios, cada um de nós que atua incansavelmente nas ruas e nas redes.

Merecemos respeito. Merecemos ter vez e voz. Os congressos partidários existem para isso. Vamos fazer valer os nossos direitos. Não pensem que vão nos manipular. Não pensem que podem nos calar. A vontade da maioria (com a óbvia consideração pelas minorias) vai prevalecer. A democracia que defendemos publicamente precisa ser praticada internamente e refletir a nossa consciência cidadã. Os princípios republicanos devem ser a nossa principal referência partidária. E serão, tenham certeza! Por um novo PPS, diferente, vivo, ético, dinâmico, justo, sustentável, transparente, moderno, (re)conectado com a sociedade e protagonista da boa política. Por um Brasil melhor, sempre!

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente