sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Uma viagem ao dia 8 de outubro de 2018

Como o folclórico jogador de futebol da célebre frase "prognóstico, só depois do apito final", prever resultado de eleição também é mais fácil depois de fechadas as urnas. Mas que tal cravar hoje um segundo turno entre Alckmin e Marina, se estiverem certos os que apostam que o eleitorado tenderá para o centro, anulando os extremos?

A Mãe Dináh era uma dessas videntes midiáticas, figurinha carimbada de programas populares de rádio e TV. Morreu aos 83 anos, em 2014, com um currículo de previsões que supostamente ia da vitória e um "ótimo governo" do presidente Fernando Collor em 1989 à morte dos Mamonas Assassinas em 1996, passando por uma visão do alto do pódio para Ayrton Senna exatamente na corrida em que o piloto morreu, em Ímola, na Itália, em 1994.

Parece que lhe foi igualmente imprevista a sua derrota como candidata a vereadora paulistana na chapa de Celso Pitta à sucessão do prefeito Paulo Maluf, em 1996. Também não consta ter vaticinado a própria morte, nem a de Pitta, muito menos a prisão de Maluf ou as condenações da Lava Jato. Mas, verdade seja dita, a política é sempre meio imprevisível, mesmo. Até para quem está acostumado à rotina eleitoral e partidária.

Pois toda esse blablablá introdutório foi feito para arriscar um prognóstico, fazer suposições, levantar hipóteses, dar palpites a pouco mais de sete meses das eleições de 7 de outubro de 2018. Não é tarefa fácil. Afinal de contas, são duzentos e vinte e poucos dias. Trinta e duas semanas. Muita coisa pode acontecer. É uma eternidade até o dia derradeiro. Mas, coragem, vamos lá...

Fevereiro de 2018. Quem são os possíveis presidenciáveis neste cenário que está colocado? Pelo PSL, Jair Bolsonaro, que deve deixar o PSC na janela partidária aberta entre março e abril. É o alter ego do eleitor mais reacionário, revoltado, avesso à política tradicional e contrário às lambanças dos atuais mandatários. Não espere respostas racionais do candidato dessa direita chucra. O seu potencial de vitória está exatamente no empobrecimento do debate, no acirramento do ódio, na despolitização da campanha e no voto de protesto inconsequente.

Pela Rede Sustentabilidade e na sua terceira eleição presidencial consecutiva, temos Marina Silva. Mulher de fibra e de caráter, numa legenda que não deixou de ser movimento e nunca chegou a se firmar como partido. Ao contrário, vai se esvaziando com a debandada de antigos colaboradores e dos poucos parlamentares que chegaram a aderir formalmente. É acusada de não ter opiniões claras sobre temas relevantes e, ao contrário, quando explica as suas posições, perde seguidores. Com pouquíssimo tempo de TV, será testada definitivamente como líder nacional ou guru de um segmento.

Descartadas todas as outras opções tucanas, dos nomes históricos do PSDB abatidos em pleno vôo aos balões de ensaio para uma "nova política", como o apresentador Luciano Huck ou o "gestor" João Doria, sobrevive graças ao poder da máquina e a influência nas estruturas partidárias o governador Geraldo Alckmin. O tecnicismo e o perfil caipira do presidenciável (bem como o histórico desabonador de 2006, quando teve no 2º turno menos votos que no 1º) não empolgam ninguém. O favoritismo e o grande potencial de votos em São Paulo precisarão compensar o sentimento anti-tucano e anti-paulista do restante do país.

O PT não existe sem Lula, mas é cada vez mais improvável que o ex-presidente possa disputar uma nova eleição. Condenado e inelegível, restará o vitimismo, a nostalgia de dias melhores e a esgarçada narrativa do golpe. Não que convença que é inocente, mas aposta na generalização da impressão de que os outros são iguais ou piores. O espólio petista se divide entre o "novo" com Fernando Haddad, a tradição no apelo nordestino de Jaques Wagner (o baiano que nasceu carioca) ou... O que resta, afinal, ao PT? Não é à toa que Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D'Ávila (PCdoB) e até Ciro Gomes (PDT) se assanhem na partilha dos votos da esquerda.

O imbróglio governista do presidente Michel Temer tenta se safar de algum modo e resgatar alguns pontinhos nos índices de credibilidade e intenção de voto. Apostar em um nome competitivo - oriundo do consórcio partidário que lhe dá sustentação - talvez seja a única chance de manter os seus principais operadores fora da cadeia a partir de 2019. Derrubado o apelo reformista do governo de transição, todas as fichas foram jogadas no tema da segurança e na intervenção federal num falido Rio de Janeiro (uma mãozinha e tanto do Pezão e de outros associados do Cabral). Daí surgem as opções mais desbaratadas: Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (PSD) ou o próprio Michel Temer (PMDB). Algum desses emplaca nas pesquisas? Difícil, hein!

A direita mais liberal - que não se identifica com o reacionário Bolsonaro - vai ter algum poder de fogo? Movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL vão eleger seus representantes para o Congresso, mas terão alguma influência na disputa majoritária? E os novos movimentos cívicos como o Agora e o Renova, tão propagados por Luciano Huck? E os empresários Flávio Rocha, ex-deputado e dono da Riachuelo, ou João Amoêdo, inventor do Partido Novo, vão amealhar algo mais sólido que curtidas e compartilhamentos nas redes sociais? Pelo Podemos, Álvaro Dias terá votos além da divisa do Paraná? Caberia uma candidatura pró-Educação como a de Cristovam Buarque? O juiz Sérgio Moro será um player decisivo nas eleições?

São sete meses pela frente para, de um lado, os partidos da polarização mais tradicional (PT x PSDB) consolidarem seus nomes: Como o efeito do pós-Lula vai interferir no resultado final? O PT tem lugar garantido no 2º turno? E o Geraldo Alckmin, quando vai subir nas pesquisas? Vai atrair os habituais aliados? Um vice nordestino do DEM (como o pernambucano Mendonça Filho ou o baiano ACM Neto) vai possibilitar um crescimento fora do "território azul" tradicional? O perfil alckmista - devagar e sempre - vai aplacar os tucanos mais exaltados, que preferiam apostar num outsider como Huck ou Doria? O PSB com o vice Marcio França herdando o Governo de São Paulo vai se portar como? Fecha com o PSDB? Acena para o PT? Abre espaço para uma via alternativa com Joaquim Barbosa?

Enfim, o jogo nem começou. Estamos no aquecimento, nem sabemos ao certo quem entrará em campo, quanto mais o resultado final. Porém, se estiver correta a tese do "centro democrático", os nomes favorecidos hoje seriam Geraldo Alckmin, com uma coligação forte, e Marina Silva, com o recall de duas eleições. Aqui é mais torcida do que uma simples previsão. Mas seria um bom cenário para o país. Do contrário, com o acirramento dos discursos mais extremistas, o risco de uma saída à Bolsonaro é iminente. A jovem democracia brasileira não merece esse triste capítulo na nossa história.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente