quarta-feira, 31 de maio de 2017

Temer vai tremer ou não há nada a temer?

Como diria a sua avó: dos males, o menor. Pois a velha política, com seus métodos arcaicos e práticas obsoletas, parece já ter definido que é "menos pior" manter o presidente Michel Temer em banho-maria do que fritá-lo de uma vez, como ensaiaram os seus próprios aliados logo após virem à tona as delações da JBS e como recomendaria qualquer manual mequetrefe de ética, governança e transparência.

É incrível como esses políticos, tanto à esquerda quanto à direita, naquilo que se convencionou chamar de campo azul ou campo vermelho, vivem em tão completa dissonância da realidade e agem com tamanha insensatez. Danem-se os fatos, às favas com os escrúpulos e as evidências, que se exploda a vontade do povo! Brasília é um mundo à parte, uma realidade paralela. O status quo decidiu simplesmente que vai tentar empurrar com a barriga Temer até as eleições de 2018.

Velhaco, o presidente não se constrange nem um pouco nesse figurino de Dona Carochinha contando suas histórias para Friboi dormir, numa estratégia de defesa tão desprovida de sentido e coerência que já não convence nem seu círculo mais íntimo de apaniguados. Ao contrário, negocia descaradamente, na bacia das almas, com a malta congressista - aquelas figurinhas carimbadas de sempre, a quem Lula chamou de "300 picaretas" antes dele próprio virar governo, comprar, ampliar, chefiar e transformar em base fiel (vide o mensalão e o petrolão) para os 13 anos de desmandos do PT no assalto ao Planalto Central.

Até que os ventos do impeachment soprassem forte o suficiente para desmanchar a maioria de Dilma Rousseff, os vendilhões arrendavam apoio em troca de emendas, mesadas, cargos e ministérios. É o modus operandi que se repete neste fim de feira que se instalou no governo, como demonstram o troca-troca na Justiça, o desprezo pela Transparência, Fiscalização e Controladoria, o incômodo com a independência da Polícia Federal e com a ousadia constitucional do Ministério Público. Até a Cultura, que parecia viver novos tempos, enfim liberta do viés partidário-ideológico da última década, voltou a ser tratada como reles mercadoria para garantir o foro privilegiado do comparsa da mala de R$ 500 mil ou para ampliar o espaço de outros amigos da onça, cheios de apetite.

De novo, é preciso desenhar para que não desvirtuem os nossos argumentos e princípios: somos favoráveis à transição, dentro dos preceitos legais, democráticos e republicanos, e à série de reformas estruturais necessárias para tornar o Estado mais moderno, dinâmico e eficiente. Porém, não a qualquer custo, atropelando a ordem, a probidade e a justiça.

Devemos defender o governo de transição, até porque somos também responsáveis por ele ao termos defendido o impeachment, mas não queiram nos cobrar solidariedade a um réu da Operação Lava Jato (lembrem-se que não votamos em Michel Temer para a vice-presidência, nem o consideramos adequado para tal função; embora reconheçamos a legalidade da sua ascensão para o lugar de Dilma). Há uma tênue linha que não pode ser ultrapassada, para que o apoiador não se torne cúmplice. Eu não tenho corrupto de estimação, você tem? Que todos, sem exceção, sejam punidos. O meu compromisso como cidadão e agente político é com o Brasil e com a minha própria consciência. E o seu?

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente