quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Enganador do presente, exterminador do futuro

Parque? Que parque?

Prefeitura diz que não tem dinheiro para atender reivindicação do povo e implantar os parques prometidos.

Para a especulação imobiliária, tudo! Para a qualidade de vida, nada?

E agora?

A Operação Urbana Mooca/Vila Carioca, prevista desde o Plano Diretor de 2002 e repetida agora com um nome mais abrangente ("Bairros do Tamanduateí"), é mais uma propaganda enganosa da gestão Haddad.

A Prefeitura quer encaminhar o projeto para a Câmara Municipal até o segundo semestre de 2015, com o objetivo declarado de "promover o desenvolvimento do perímetro que abrange os bairros da Mooca, Cambuci, Ipiranga, Vila Zelina, Vila Prudente e Vila Carioca".

Mas as ideias do prefeito não correspondem aos fatos. De acordo com a exposição que vem ocorrendo em audiências públicas (Mooca, dia 1º; Vila Prudente, 3; e Ipiranga, 8 de dezembro), trata-se de "um plano de intervenção urbana que visa aproximar o trabalho da moradia, aumentar o número de áreas verdes, promover maior acesso a serviços, cultura, lazer e equipamentos sociais, melhorar a mobilidade urbana e minimizar as inundações na região".

Parece perfeito no papel - e tão somente na apresentação virtual desta gestão que demonstra dia a dia o seu despreparo e o improviso das suas ações. Na prática, tudo se desmancha no ar. O distanciamento dos problemas concretos é típico de quem desconhece a cidade que administra. Ou que enxerga São Paulo como um daqueles adolescentes que se divertiam em jogos online, já fora de moda, simuladores de ambientes tridimensionais.

"No desenho é muito bonito", ironizou uma das participantes, na primeira das audiências públicas que fingem dialogar com a população mas na verdade apenas impõem a estratégia caça-níqueis da Prefeitura (que anuncia a presunçosa intenção de arrecadar mais de R$ 5 bi com a venda de CEPACs, ou Certificados de Potencial Adicional de Construção) e expõem um preocupante autismo político e social.

"Ainda bem que no desenho é bonito", respondeu o secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, antes de completar, em tom sério: "Já imaginou se apresentassemos um desenho feio, como iríamos ganhar o apoio da população?"

Parece piada, mas esse comportamento do secretário de Haddad é emblemático. A Prefeitura propõe uma via de mão única: precisa do apoio da população mas em troca só oferece a ilusão de dias melhores. A preocupação objetiva com a qualidade de vida do cidadão paulistano é nula.

Tanto que Haddad não vai atender nenhuma das principais (e mais justas) reivindicações da população desses bairros, como a implantação do Parque Verde da Mooca ou do Parque da Vila Ema.

Alega não ter recursos para desapropriar essas áreas, ao mesmo tempo em que promete adquirir terrenos disponíveis para uma infinidade de equipamentos sociais, moradias populares e "novos parques" na região. Pura enganação! Historinha pra boi (e o povo) dormir! Faltou contar que os terrenos já estão nas mãos das construtoras!

Leia: E aí, Haddad? Vai permitir nova invasão na Mooca?

Até porque a Operação Urbana é um plano meramente arrecadatório, sem nenhum compromisso com o mundo real.

A intenção da Prefeitura é embolsar dinheiro antecipadamente e jogar para administrações futuras (20 ou 30 anos) o que chama de "mitigação" dos monstruosos impactos ambientais decorrentes dessa ação irresponsável.

O desejo do prefeito é adensar estes sete bairros ligados pela antiga via férrea e por grandes galpões no eixo do Rio Tamanduateí com um potencial construtivo de seis vezes o tamanho do terreno. Uma aberração!

São previstas novas moradias para mais de 20 mil famílias (num corredor que atualmente possui 14 mil), ou seja, Haddad propõe aumentar em 143% a população local, igualando o adensamento dessas áreas ao dos maiores de São Paulo, que são hoje bairros degradados como República e Santa Cecília.

Num surto de "sincericídio", o representante da Prefeitura nas audiências públicas chegou a admitir que há muito mais aspectos negativos do que positivos para os atuais moradores dos bairros atingidos. "Mas isso é normal, pois o plano é transformador da realidade", disse.

Oi? Transformador da realidade? Na real, eles querem é transformar a nossa vida num INFERNO, isso sim!

Será que o prefeito e os brilhantes técnicos da Prefeitura sabem quanto tempo um morador perde atualmente no trânsito para se deslocar dentro do próprio bairro ou até o centro, por vias como a Avenida do Estado, Anhaia Mello, Salim Farah Maluf e Radial Leste, para citar apenas os corredores mais tradicionais? Agora imagine a situação com uma vez e meia mais pessoas, mais carros, mais barulho, poluição e desordem...

Socorro! Se hoje a Prefeitura já não dá conta do trânsito e dos serviços básicos de limpeza, educação, saúde, lazer, cultura, iluminação etc., como quer nos convencer que, num passe de mágica, criará a infraestrutura necessária para atender mais de 20 mil novas famílias, grande parte vinda de submoradias na periferia e necessitadas de emprego e de assistência social?

Não será com este simulacro de plano urbanístico que o PT vai disfarçar a falta de visão e de planejamento da sua desastrada gestão. Se essa suntuosa apresentação estiver descolada da realidade - como parece estar a Operação Urbana - pode pintar faixas vermelhas no asfalto da cidade inteira e procurar infinitas soluções de marketing que Haddad não vai disfarçar a sua "ruinddad". Vai é destruir a Mooca e outros bairros históricos de São Paulo.

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