sexta-feira, 27 de junho de 2014

"Vai tomar no cu", "vai se foder", "seu cuzão"... Baixaria? Nada disso, só um dia "normal" na Câmara

Perdoe a publicação tão direta e explícita desses xingamentos, mas foi o que se ouviu com clareza em plenário, na presença de toda a imprensa e do público que lotava as galerias, durante a reunião conjunta das comissões da Câmara Municipal de São Paulo, na noite desta sexta-feira, 27 de junho, antes de mais um adiamento da votação do novo Plano Diretor Estratégico da cidade.

O vereador Dalton Silvano (PV), da base de sustentação do governo petista, dirigiu aos berros essas palavras contra o colega Eduardo Tuma (PSDB), levantando-se da Mesa Diretora (onde fazia a leitura dos pareceres das comissões) e empurrando o oposicionista, que tentava uma medida regimental de obstrução da sessão ao protocolar um voto em contrário - o que exigiria a leitura de centenas de páginas.

Falta de decoro? Imoralidade? Indecência? Obscenidade? Na opinião dos vereadores de São Paulo não é nada disso. "É normal""é natural""faz parte do dia-a-dia do plenário""é a adrenalina do parlamento""vocês vêem isso aqui, em Brasília, em todo lugar".

Foi isso que afirmou o líder da bancada do PT, vereador Alfredinho, ao colocar panos quentes e garantir que se trata de um comportamento "normal", "natural" do parlamento. Será?

A reação da público nas galerias foi entoar um coro de "teatro, teatro" e ficar de costas para o plenário, enquanto a imprensa registrava as imagens dantescas que vão contribuir para piorar ainda mais os índices de reprovação dos vereadores paulistanos, como já mostramos no início do dia.

A reação desmedida e intempestiva de Dalton Silvano pegou os outros vereadores de surpresa. Mesmo depois de contido, ele seguiu descontrolado repetindo sem parar a sucessão de xingamentos. O opositor tucano se afastou da mesa. Ouvido em seguida pela imprensa, Eduardo Tuma disse que iria relevar o "contato físico" e os "excessos verbais" atribuídos por ele ao "calor da discussão".

Curioso que esses políticos que acham tão natural proferir esses termos em plenário ("vai tomar no cu", "vai se foder", "seu cuzão"), num local onde o decoro deveria ser respeitado, até porque há um regimento interno que assim determina, são os mesmos que condenaram a vaia e o coro de "vai tomar no cu" nos estádios da Copa.

Ora, ora... Quanta hipocrisia! Quer dizer que o povo num estádio de futebol, onde o xingamento funciona como catarse, um desabafo inofensivo e legítimo da torcida, é mal educado e merece a condenação? Mas a "elite branca" da política paulistana pode se agredir verbal e fisicamente dentro do Legislativo, que isso é considerado "normal" e "natural" na rotina dos nobres parlamentares?

Lamentável. Deplorável. Um acontecimento vexatório, que deveria ser punido com rigor, pois a ação desses mandatários serve como exemplo (negativo) para a sociedade. Um desrespeito inominável às instituições democráticas e aos princípios republicanos, que infelizmente vem se tornando cena rotineira e contribuindo para a total falta de credibilidade na política e nos políticos.

Plano Diretor adiado para segunda-feira

O fato é que a votação do Plano Diretor foi adiada para segunda-feira. Não haveria tempo de apreciar todas as emendas apresentadas e cumprir o rito formal de discussão e votação antes da madrugada de sábado. "E nós queremos votar no barulho do dia, não na calada da noite, como a imprensa nos acusa", afirmou em discurso o líder do governo, vereador Arselino Tatto (PT).

Não sem antes, mais uma vez, vereadores do governo e da oposição se reunirem com o líder do MTST, Guilherme Boulos, apresentarem suas justificativas sobre os repetidos adiamentos e prometerem acatar as reivindicações dos sem-teto. Vários deles subiram no carro-de-som dos manifestantes. A ocupação em frente a Câmara prossegue.

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