segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A insegurança da cidade e um prefeito inseguro

Artigo de Carlos Fernandes (PPS/SP)
O pouco que a administração anterior avançou em termos do resgate do sentimento de coletividade, de urbanidade e de compartilhamento responsável do espaço público, o prefeito Haddad conseguiu destruir em 13 meses de uma gestão desastrosa à frente da Prefeitura de São Paulo.

Vejamos, dentro de uma lista infindável de provas de omissão e despreparo, dois exemplos de conquistas da cidadania que foram simplesmente desmanteladas pelo prefeito "novo" do PT: a Lei Cidade Limpa e a Operação Delegada.

A primeira, que vinha funcionando muito bem e recebeu aprovação quase unânime da população, ao diminuir bastante a poluição visual nos últimos anos e regulamentar a publicidade exterior e as fachadas de lojas e de prestadores de serviços, teve afrouxada a fiscalização. Não se sabe o porquê, mas é possível imaginar.

Resultado: de cartomantes a despachantes, da lavagem de estofados a empréstimo de dinheiro, as faixas coloridas voltaram a dominar os postes e as ruas de São Paulo. Anúncios, banners, cartazes, cavaletes, letreiros, luminosos: a cidade caótica vai se readaptando às vistas grossas da gestão petista.

O que antes era coibido e controlado, provocando a justa aplicação de multas ou levando até mesmo à prisão de infratores, seja por crime ambiental ou abuso da fé pública, em ação conjunta do poder público (Prefeitura e Polícia), hoje foi relegado ao vasto rol de atribuições dos agentes vistores nas subprefeituras. 

Ou seja, devido às inúmeras limitações impostas ao trabalho diário destes servidores responsáveis pela fiscalização de obras e outras flagrantes irregularidades, seria ingenuidade supor que eles iriam conseguir atender a contento também a demanda da Lei Cidade Limpa.

Aí caímos em outro problema paralelo: o abandono da Operação Delegada, que permitia que policiais militares trabalhassem em parceria com a Prefeitura, nos horários de folga, aumentando a segurança da população e o respeito às leis, necessidade vital para o cotidiano da administração. 

Então candidato, Haddad defendia a ampliação desta cooperação entre a Prefeitura e o Governo do Estado, atuando não apenas na repressão ao comércio de produtos ilegais, que foi uma das ações mais corriqueiras durante a gestão Kassab, mas também na segurança propriamente dita.

Eleito prefeito, o petista abandonou a promessa de campanha (mais uma), e contribui para que a segurança entre em colapso, talvez prevendo ganhos eleitorais em 2014 e 2016.

A Operação, que contava com 3.439 policiais militares, caiu vertiginosamente para uns heróicos profissionais que ainda toleram o descaso da Prefeitura, recebendo com um mês de atraso pelo trabalho realizado e sem condições nem de reprimir o comércio ambulante e a pirataria, nem de aumentar a sensação de segurança dos cidadãos.

Casos de furto e roubo, como na chamada "saidinha de banco", são exemplos concretos de ocorrências que diminuem muito com a presença ostensiva do policiamento nas ruas. O que havia de benéfico para todos com o reforço, em pontos estratégicos, destes PMs que aderiram à Operação Delegada, voltou à estaca zero.

Não por acaso, ZERO é também a nota que a maioria da população vem dando ao prefeito Fernando Haddad pelo que (não) realizou neste primeiro ano de gestão. A cidade precisa recuperar a sua autoestima, o respeito ao espaço urbano e garantir a segurança da população. O PT e Haddad não podem simplesmente lavar as mãos e fingir que isso não é com eles. 

A falta de segurança em São Paulo é fruto também deste mesmo sentimento de insegurança por termos no cargo de prefeito um sujeito que, como se diz, "não nasceu pra coisa"; não demonstra vontade nem o mínimo talento para gerenciar a complexidade desta metrópole e zelar pelo bem comum. A gestão Haddad é de dar dó.

Carlos Fernandes é presidente municipal do PPS de São Paulo e foi subprefeito da Lapa (2010/2011)

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