terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Seja bem-vindo ao Brasil, Edward Snowden (#sqn)

O denunciante do esquema mundial de espionagem executada pelo governo norte-americano, Edward Snowden, estaria solicitando asilo político no Brasil à presidente Dilma Roussef.

Não é bem isso que se viu na manifestação do próprio Snowden, mas qual foi a resposta imediata do governo federal, marcado pelo DNA antidemocrático do PT? Informar que negaria o pedido, é óbvio! Não poderia se esperar atitude diferente dessa milícia PTralha.

A indicação do pedido de asilo político estaria em uma "Carta Aberta ao Povo do Brasil", escrita por Snowden e antecipada pela Folha, antes de ser supostamente enviada a autoridades do governo e que faria parte de uma campanha on-line, hospedada no site da ONG Avaaz, especializada em petições.

Em troca da concessão de refúgio no Brasil, Snowden estaria prometendo colaborar com a investigação sobre as ações sigilosas da NSA (Agência de Segurança Nacional). Ele nega. Diz que apenas explicou a sua situação, não propôs nenhuma "troca" nem pediu privilégios.

A campanha pró-Snowden, segundo informa a imprensa, seria liderada pelo brasileiro David Miranda, namorado de Glenn Greenwald, o jornalista que revelou o esquema de espionagem. A ideia é sensibilizar o governo Dilma a conceder abrigo a Snowden, ex-agente de inteligência do governo americano, que está asilado provisoriamente na Rússia.

Sobre este assunto da espionagem e também do marco civil da internet, vale a leitura do nosso artigo "Terceira gaveta, no canto esquerdo", publicado na Revista Política Democrática de dezembro:

Documentos divulgados pelo ex-funcionário da inteligência americana Edward Snowden indicam que o governo dos Estados Unidos realizou operações de vigilância em massa no mundo todo - incluindo países aliados e potenciais inimigos, sem exceção.

Da presidente Dilma Roussef à chanceler Angela Merkel, da Petrobras ao Papa Francisco, ninguém escapou dos tentáculos da espionagem deste Big Brother da vida real, com métodos que nivelam Obama a Osama, rebaixando o até então festejado líder global ao patamar do terrorista número 1 do mundo, inimigo da liberdade e da democracia.

O Brasil ainda engatinha nesses avanços tecnológicos, que servem tanto para o bem quanto para o mal. A reboque dos acontecimentos, o governo brasileiro finge indignação para implementar o marco regulatório da internet. Pura canastrice. Afinal, está no DNA petista o desejo de regular tudo - Estado, mercado, mídia, sociedade - e submeter-nos todos aos interesses do partido dominante. Como nunca antes na história deste país...

Que exista uma lei para regulamentar os princípios, as garantias, os direitos e deveres de quem usa a rede, é justo e necessário. Mas qual o limite do papel do Estado neste marco civil? A simples regulamentação dos serviços prestados ou o controle absoluto (econômico, social, jurídico e político) de temas como a neutralidade da rede, a privacidade, a retenção de dados, a função social da internet e a responsabilidade civil e criminal de usuários e provedores?

Quem decide, afinal, o que é certo e o que é errado na internet? Esse Congresso fisiológico que vota em função do espaço loteado no governo, que não cassa deputado preso, que tenta calar os partidos de oposição, que desrespeita princípios constitucionais básicos e despreza direitos garantidos, além de parecer autista às principais reivindicações das redes, das ruas e das urnas?

O histórico da mão pesada do Estado no controle das liberdades individuais e coletivas, além de representar uma constante ameaça às conquistas democráticas e republicanas no Brasil, traz inúmeros exemplos negativos da sobreposição de interesses particulares aos interesses da maioria.

Mas o risco latente é sempre o mesmo: o lobby de setores econômicos e políticos, que também se sobrepõe à vontade da sociedade, e o exagero no rigor do centralismo governamental. E aí proliferam indistintamente esses marcos regulatórios, seja o já citado da internet, ou o das comunicações, da energia, da saúde, da educação etc., nem sempre garantindo a melhor qualidade na prestação dos serviços de utilidade pública, mas certamente atendendo aos desejos do partido dominante e à sua base de sustentação.

“É a política, idiota!”, deveria ser a primeira lição de qualquer cartilha básica de marketing. Tudo gira em torno da conquista ou da manutenção do poder. Aquele objetivo que justifica “fazer o diabo” para ganhar uma eleição, como ensina a presidente Dilma Roussef, para delírio da milícia petista e desgosto de quem se opõe a esses métodos deploráveis da velha política.

Mas, enfim, os recentes acontecimentos expõem detalhes inacreditáveis da espionagem patrocinada pelos governos no mundo inteiro: do presidente norte-americano, o democrata Barack Obama, ao prefeito de São Paulo, o poste Fernando Haddad, surgem notícias de grampos, escutas, investigações.

Se bem que o nosso exemplo doméstico não tem o requinte tecnológico nem o charme dos grandes espiões. Aqui no Brasil, os caçadores de corruptos se confundem com a caça desde os tempos de Fernando Collor – e, não por acaso, ele próprio, além de figurinhas emblemáticas como Maluf, Sarney, Renan, Feliciano, Delfim, mensaleiros, igrejeiros, ruralistas e uma infindável lista de políticos “tradicionais” (no pior sentido do termo) compõem a coalizão governista do chamado “lulopetismo”.

Vale esta citação para um rápido exercício mental: imagine agora se tivéssemos acesso a uma escuta das conversas entre a presidente Dilma e esses aliados do governo... (pausa)... Não, melhor nem imaginar. Ninguém merece. Faria corar porteiro de casa de tolerância.

O último caso de espionagem à brasileira que veio a público e desperta atenção tem como protagonista Fernando Haddad.

Se ele não tiver sucesso à frente da Prefeitura de São Paulo, como tudo indica diante da lambança que vem promovendo na cidade, já pode investir no pastelão ou em séries de realismo fantástico. Quem sabe, até suceder Maxwell Smart, o famoso "Agente 86", ou o impagável Inspetor Clouseau.

Porém, antes, Haddad precisa definir melhor o seu personagem: é o "xerife" no combate pessoal e incansável à corrupção na Prefeitura de São Paulo, colocando até dinheiro do próprio bolso para investigar e caçar os malfeitores, ou é aquele que ficou sabendo de tudo "pelos jornais", para não se comprometer?

Há, aqui, uma contradição gritante. Aliás, isso já virou rotina para Haddad. Mas, nesse caso da espionagem brancaleone que levou à prisão funcionários de confiança do município, o prefeito exagerou: chegou a acusar que houve "encenação" dos suspeitos nas escutas, para justificar tudo aquilo que não lhe convém; como, por exemplo, a menção de nomes de operadores políticos do PT e seus auxiliares diretos nas irregularidades. Ops! Perigo! Perigo!

Ato contínuo, a mídia chapa-branca e a milícia virtual nas redes sociais se apressaram em divulgar, naquele tom heróico que só o lulismo é capaz, que Haddad bancou do próprio bolso um QG de investigação (alugando pessoalmente um escritório vizinho ao local onde era repartido o dinheiro público desviado) para promover uma “escuta ambiental” e prender os funcionários corruptos, reforçando o tradicional marketing petista e um aparentemente involuntário realismo fantástico de fazer inveja a Saramandaia.


Tudo soa muito estranho, ainda mais quando parte da imprensa se esforça para associar a corrupção apenas ao antecessor de Haddad, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), sendo que surgem vínculos cada vez mais concretos de lideranças do PT com os funcionários de confiança corruPTos, que foram mantidos em seus cargos e até promovidos na atual gestão.

Para piorar, segundo o próprio prefeito e a Promotoria, os políticos citados devem ficar de fora das investigações. Como se fosse possível supor que apenas funcionários do segundo escalão mantivessem um esquema tão complexo de corrupção na Prefeitura, atravessando diversas gestões e desviando pelo menos R$ 500 milhões dos cofres públicos. Aham! Acredite se quiser!

Tudo isso posto, eis que surge outra ironia do destino: após 40 anos de vida pública, enquanto este novo esquema de corrupção vem à tona na Prefeitura de São Paulo, Paulo Maluf é enfim condenado pela Justiça. Sinal dos tempos?


No país da piada pronta, o deputado Maluf, presidente do PP paulista e aliado do PT nos governos federal e municipal, vai virar "ficha-suja" só agora, mesmo depois de inúmeros escândalos e denúncias: que vão da entrega de Fuscas aos campeões da Copa de 70, passando pelo "frangogate" e pelo propinoduto de obras superfaturadas, entre outras suspeitas que já lhe custaram desde uma estadia nada agradável na prisão a uma página de “procurado” no site da Interpol.

Incrível a semelhança entre os postes de Maluf e de Lula: há exatos 15 anos estourava outro escândalo famoso na Prefeitura de São Paulo, a "Máfia dos Fiscais", que culminou com o afastamento temporário do então prefeito Celso Pitta (que também seria preso dez anos depois), a cassação e prisão de vereadores da base malufista.

Bom, deixa pra lá... Não vamos voltar ao passado, nem entrar nos detalhes desses casos de corrupção na política. Tratemos do assunto da espionagem e das tecnologias que estão acabando com a privacidade de qualquer cidadão no mundo inteiro.

A verdade é que todo mundo tem um pouquinho de inveja de Edward Snowden, Glenn Greenwald, Julian Assange & cia. Nós, jornalistas, queríamos ser um deles. E, os políticos, ter um a serviço.

Do Deep Throat do Watergate aos escândalos tupiniquins (mensalão do Lula, pasta rosa, aloprados, anões do orçamento, impeachment do Collor, compra de votos para a reeleição de FHC, Rosegate, assassinato dos prefeitos do PT etc.), passando por todas as operações com nomes insólitos da Polícia Federal, CPIs encerradas e enterradas, fraudes em licitações e todo tipo de denúncias e suspeitas, há sempre um grampo ou um dossiê na história.

Mal comparando, é quase como a polêmica das biografias não-autorizadas. Todo mundo gosta, desde que não fale de si próprio, mas do outro.

A Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) é o SNI que deu certo. No lugar dos nossos arapongas atrapalhados com bloco de anotações, gravador e máquina Polaroid, um bando de nerds bisbilhota a sua vida e a minha sem sair da frente do tablet. São os biógrafos não-autorizados, verdadeiros black blocs da intimidade alheia.

"O que você faz quando ninguém te vê fazendo, ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?", brinca o rock do Capital Inicial. É o hino do mundo moderno. O GPS do carro ou a antena do celular localizam cada um de nós no mapa mundi a cada segundo. Sem carro ou celular, não use o bilhete único, porque a central de transporte saberá em que ônibus você está. A empresa do vale refeição tem a sua rotina diária de almoço, café e jantar. O cartão do banco conhece suas preferências, gosto pessoal e extravagâncias.

Saia à rua bem alinhado, porque as câmeras de segurança das casas, do comércio e do controle de tráfego vão te flagrar em todos os ângulos. Sorria 24 horas por dia, porque você estará sendo filmado. E, se cometer alguma ilegalidade, vá em 10 minutos ao Youtube ou no telejornal em horário nobre para conferir as imagens. Corta pra 18: você estará lá!

Facebook, Google, Microsoft, Yahoo, e-mail, Whatsapp, telefone, Twitter: não há senha, criptografia ou mal de Alzheimer capaz de fazer esquecer algum detalhe da sua rotina. Tudo estará devidamente arquivado na memória coletiva. Na nuvem, a virtual, que aproxima o céu do inferno de maneira impressionante. E me retorna à lembrança, ideia fixa, a presidente Dilma dizendo que "vale fazer o diabo para ganhar a eleição". Só por Deus!

Na cartilha do marketing de guerrilha petista, vale tudo: uma lição virtual recente, daquelas que causam a chamada "vergonha alheia", foi colocar a presidente Dilma Roussef por mais de uma hora interagindo com a sua paródia no twitter, a Dilma Bolada. Tudo devidamente registrado e oficialmente divulgado para marcar o retorno de Dilma – a original – às redes sociais.

A receita: pegue uma presidente com fama de gerentona, sem nenhuma pitada de carisma e empatia, em baixa nas pesquisas, misture na panela um simpatizante engraçadinho, Jeferson Monteiro, que imita no twitter e no facebook os trejeitos estereotipados da "presidenta", adicione 1 kg de recursos públicos, mais uma dúzia de milicianos virtuais patrocinados com dinheiro do Estado, coloque em fogo brando e pronto! Sai um factóide prontinho para ser consumido pela imprensa chapa-branca.

A conta pessoal de Dilma Roussef no twitter estava inativa desde 2010, com quase 2 milhões de seguidores. "Eu voltei, voltei para ficar. Porque aqui, aqui é meu lugar", anunciou a presidente em sua reestréia virtual, em setembro de 2013, citando trecho da música "O Portão", de Roberto Carlos, de quem Dilma se diz fã. Por sorte os internautas foram poupados do verso "Meu cachorro me sorriu latindo!".

Mas o rebanho de jornalistas domesticados, militantes e seguidores cooPTados estava a postos, destilando o ódio de praxe em 140 toques contra os críticos da ação ostensiva e agressiva do marketing governamental, como o twitter @23pps.

Entre outras amenidades, mimimis e tentativas de fazer graça, Dilma Roussef comentou reportagem da revista "The Economist", que atacou a política econômica do governo, retuitou sua alter-ego digital, que chamou a publicação britânica de "The Recalconomist", e fez comentários auto-elogiosos sobre o Programa Mais Médicos e o episódio de espionagem americana.

O tweet final foi sobre o suposto passeio de moto que Dilma teria feito em Brasília, na mais inverossímil vibe de "rebelde sem causa", que teria "vazado" na imprensa (e tem gente que acredita...). Dilma Roussef respondeu à Dilma Bolada: "Sim & me diverti pra valer. Será que vc tem carteira pra dirigir moto? Se tiver, da próxima vez, podemos atuar no 8º Velozes e Furiosas".

Uau, que presidente mais humana, gente! Outra vontade inconfessável que “vazou” para a imprensa (essa que trata o publicitário João Santana como guru iluminado): Dilma também gostaria de dar umas escapadinhas para namorar... Ahhhh! Cuti-cuti! Que fofa essa Dilminha (só que não)! Mais fake, impossível!

Já estou até prevendo que no dia 5 de outubro de 2014, quando este redator for procurar o título de eleitor na bagunça do próprio quarto, vai receber um torpedo ou uma chamada no Skype da Dilma Bolada, a paródia estatizada, com aqueles trejeitos estereotipados: "Já olhou na terceira gaveta, no canto esquerdo, meu querido?"