O Movimento Passe Livre, que liderou os primeiros protestos contra o aumento de 20 centavos na tarifa de ônibus em São Paulo, no mês de junho, e promove há anos outros atos semelhantes pelo país, critica duramente, em seu site (leia aqui), a audiência pública convocada pelos vereadores de São Paulo para esta quinta-feira, 22 de agosto, às 18h, em resposta à manifestação ocorrida na semana passada, que culminou com a invasão da Câmara Municipal e vidros da fachada quebrados a pedradas.
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"A Câmara, na tentativa
de retomar o protagonismo político frente as manifestações por transporte,
propôs a realização de uma audiência pública, como já vinha fazendo há
tempos. Enxergamos nessa audiência uma tentativa da Câmara de trazer para o seu
interior, para o seu controle, um processo que hoje acontece do lado de fora. Foi fazendo o movimento inverso que, em junho, as manifestações contra o aumento
afirmaram sua força: situando a rua, e não o interior das instituições, como o
local onde se deve construir a luta.", opina o Movimento Passe Livre.
"Criticamos essa audiência não por desprezo à via institucional – até porque a
efetivação de muitas das nossas reivindicações passa necessariamente por ela –,
mas por entender que não existem concessões dos de cima. Se neste momento
pretendemos arrancar mais conquistas, devemos antes construir nossa luta. E essa
construção só pode se dar por baixo e por fora, com nós – usuários e
trabalhadores – nos organizando em nossos bairros e comunidades, para construir
o transporte e a cidade que queremos, sem pedir licença a ninguém. No metrô ou na Câmara, não nos deixaremos sufocar. Por uma vida sem
catracas!", conclui.
Na realidade, quem tentou ocupar a Câmara e reivindicou a audiência pública foi outra organização, a ANEL (Assembléia Nacional dos Estudantes - Livre), ligada ao PSTU. Cerca de 30 manifestantes invadiram as galerias do plenário.
"Estamos reivindicando o passe-livre, a abertura da caixa-preta dos
transportes, a estatização do transporte público, e queremos a convocação de uma
audiência para a abertura de negociação dessas reivindicações", explicou
Clara Saraiva, da Comissão Executiva da ANEL. "Esse processo
acontece no país inteiro, várias Câmaras Municipais já foram ocupadas, como
Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, e a gente aqui está se somando a
essa luta."
A "ocupação" da Câmara de São Paulo durou cerca de duas horas. "Hoje é um dia histórico para a cidade, além do ato que
reuniu três mil pessoas, a ANEL promoveu uma ocupação da Câmara para exigir a
abertura da caixa-preta de todas as empresas que lucram milhões de reais e
também o passe-livre a estudantes", afirmou Arieli Tavares, estudante da USP
e integrante da ANEL.
Os manifestantes convocaram um ato para as 16h desta quinta-feira, em frente à Prefeitura, que partirá em seguida à Câmara, para acompanhar a audiência pública. A expectativa era lotar o Salão Nobre, no oitavo andar, com capacidade para 380 pessoas,
além de pelo menos outros 300 manifestantes no auditório externo do térreo, acompanhando a audiência pública por um telão.
Mas, ao contrário do prometido pelo presidente José Américo, a audiência deverá ocorrer no auditório externo. A segurança será reforçada com a presença da Guarda Civil e da Polícia Militar. Há um temor de que se repitam cenas de depredação e violência, além da possibilidade de nova ocupação da Câmara.
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