quarta-feira, 13 de julho de 2011

"O guru do subsolo", por Fernando de Barros e Silva

"Trabalhar é transformar sonhos em realidade"; "cada gesto é transformador". Ou então: "Há talentos por toda parte. Alguns estão empoeirados, outros escondidos. Espane. Revele". Este é Gabriel Chalita, o político que pratica autoajuda. Há quem se sensibilize com seus clichês motivacionais.

Estranho é que Chalita faça propaganda gratuita de si mesmo no circuito de TV do metrô, uma empresa estatal atualmente sob os cuidados de Geraldo Alckmin, de quem o deputado-guru é amigo.

Durante semanas, dez vídeos com pílulas dessas sábias baboseiras foram exibidos oito vezes ao dia em mais de 5.000 aparelhos instalados em mais de cem vagões, para um público médio de 3,3 milhões de pessoas. Uma autoajuda e tanto para quem já autodeclarou que será autocandidato à prefeitura.

A direção do Metrô diz que a responsabilidade é da TV Minuto, que administra o circuito. E a TV Minuto (do Grupo Bandeirantes) diz que apenas exibiu, de graça, "dicas de bem-estar" do deputado-candidato. Por um mês no ar (ou fazendo campanha debaixo da terra), Chalita teria que pagar, pela tabela da emissora, em torno de R$ 100 mil.

O problema, como é obvio, não é de preço, mas de favorecimento de um candidato, no caso disfarçado de filósofo da revista "Caras". Os vídeos só foram retirados do ar depois da reportagem de Catia Seabra e Daniela Lima, domingo na Folha.

Numa disputa ainda muito indefinida, mas que tende a ser pulverizada entre nomes de pouca expressão, Chalita serve como opção a Alckmin para chegar ao segundo turno. Mas serve também para que o PMDB negocie em boas condições com o PT a sua não candidatura.

Tudo é possível no mundo de Chalita. Pode ser que ele espane. Pode ser que ele se revele.

Tipo midiático, que transita entre a religião e a autoajuda e age como animador espiritual do eleitorado, o pensador do subsolo está cavando seu espaço -e muito mais adiantado que as obras do metrô.

(Artigo de Fernando de Barros e Silva, publicado na Folha de S. Paulo de quarta, 13 de julho de 2011)